terça-feira, janeiro 30, 2007

Uma via de mão única...

Conversando com a Orquídea esses dias (até porque a gente dorme junto todo dia agora né), estavamos discutindo sobre fazer e manter amizade com pessoas heterossexuais, de como isso tem se tornado difícil.

Conversa vai conversa vem, chegamos a conclusão de que é porque os heterossexuais querem falar e falar da vida deles, dos relacionamentos deles e tal e quando nós abrimos a boca eles se negam a ouvir e nem deixam a gente tentar mostrar que temos uma vida também, bem parecida com a deles por sinal. Fecham qualquer possibilidade de ouvir que você está com uma pessoa do mesmo sexo e assim a convivência se torna chata e cansativa, uma via de mão única.

Já aconteceu com vocês, de não conseguirem falar com uma pessoa porque ela simplesmente não dá abertura? O que vocês acham?

(A generalização deste texto não significa que todos os os heteros sejam assim, apenas que isso tem sido muito frequente.)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Nova amiga sapata nova

Meu Deus, quase 10 dias sem atualizar! Como assim?

Momento de pausa forçada no Jardim. Nunca as Flores estiveram tão distantes. Dama-da-Noite tá viajando pro sertão, Impatiens pra Cidade Maravilhosa, Violeta está trabalhando feito uma condenada e eu estou curtindo a casa nova sem-computador-e-sem-internet.

Claro que agora eu não estou nessa casa nova. Agora estou na casa da mãe da Violeta, roubando o computador - óbvio. Mas como estou caindo de sono e preciso acordar cedo amanhã para buscar minha Flor no trabalho, acho que deveria ir dormir. Mas o vício cibernético é mais forte...

Como já to aqui mesmo, to contando a novidade lésbica da semana. Ontem fomos recrutadas para conhecer uma sapata recém saída do armário, prima de uma amiga da irmã da Violeta. Deu pra acompanhar a linha? Continuando. Fomos eu e Violeta achando divertidíssima aquela situação, curiosas com o que viria pela frente. Brochantemente (que advérbio lindo, acabei de inventar), a menina era muito sapata-nova para os nossos gostos. Isso significa que ela mal olhou na nossa cara quando chegamos na pizzaria (medo de as pessoas pensarem que ela é lésbica?), não demonstrou muito interesse em conhecer locais GLS (minha filha!!! como assim você faz turismo e não vai nos MELHORES lugares?), não parecia ter muita vivência/fluência/domínio no mundo gay e estava calada, muda, quietíssima, com aquela cara de bolacha que acabou de terminar o namoro. E tadinha, não é que tinha acabado de terminar mesmo? Mas é aquela coisa: lésbica e drama são quase sinônimos, acho que vou aceitar de vez essa conexão porque ela é quase intrínseca a nós, sapatonas. Enfim, deixa pra lá.

No fim das contas, a gente tentou convencer a menina a passar o fim de semana na cidade para fazermos com ela a programação gay. Ela não se animou muito, tinha que voltar para a cidade dela, coisas sérias a fazer, etc etc. Pena. Pra que interesses em comum, não é mesmo? Mas eu já to naquela: ou assume logo a cultura gay e vem pra farra, ou fica quieta aí ouvindo Ana Carolina, chorando a dor de cotovelo, se entupindo de chocolate e assistindo ao novo filme da Sandra Bullock em DVD. Essa coisa de meio termo, de não parecer lésbica, de ser discreta, já me encheu o saco. Po, eu sou adolescente, quero mais é ir pra gandaia explodindo com meus hormônios! Mas seguindo em frente, tenho algumas perguntas sobre o tema:

1. Por que, quando alguém acaba de sair do armário, logo tratam de juntar essa pessoa com outros GLBT? É quase um "eu conheço outro Labrador chocolate, a gente podia colocar os dois juntos pra ver se eles cruzam!"

2. Por que as sapatas demoram mais pra 'entrar na vida' gay do que os caras? Eu acho isso tão triste. Uma das coisas mais marcantes de adolescência gay pra mim é você ser 'adotada' por alguém mais velho. Super divertido, educativo e libertador. (Também pode ser nojento e traumático, mas eu to falando da minha vida aqui, então eu digo que é lindo e cor-de-rosa.)

3. Por que todo mundo acha que, só porque você é lésbica, você vai se dar bem com todas as outras lésbicas? Fala sério, nós já saímos do jardim de infância há algum tempo, e é preciso mais do que 'cor favorita' pra se fazer um amigo.

4. Por que eu fico tão mau-humorada quando estou com sono? (Essa eu queria saber a resposta mesmo, de verdade.)

Fiquem com essas perguntas e, se alguém tiver um insight, me responda. Estarei espiando o Jardim em um computador ou outro pelo mundo!

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Mudança

Casa nova. Sem computador, sem internet, sem televisão.

Mas quem liga? Tá divertido pacas!

(Queria que as flores estivessem por aqui, vocês precisam conhecer a casinha! To com saudades. Voltem logo!)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

No trânsito

Antes de começar, uma informação para melhor compreensão dos fatos: onde eu moro, as ruas são grandes, lisas, e têm um limite de velocidade bem alto. Fim da explicação.

Estávamos eu e Violeta andando de carro. Correndo, na verdade. Eu digiria, ela estava do lado. E lá ia eu feliz e contente, fazendo o de sempre: ultrapassa aqui, ultrapassa lá, pega a faixa da direita que não tem ninguém e dá pra correr mais. 90 km/h, 100, 110... e um cara entra na minha frente a 40.

Meti o pé no freio, quase bati no carro, que merda!, o idiota não viu não? Joguei pra faixa do lado e emparelhei com o cara, que ainda estava a 40 km/h. Ele fez um gesto de "ups, sorry", de um jeito bem irônico (dá pra imaginar?). Fiquei putíssima e, fina e educada como sou, abaixei o vidro da janela da Violeta e comecei a gritar:

"Porra, não viu não? Tá louco?"

Ele gritou de volta.

"Caralho!" e, olhando pra Violeta, mandou a já esperada: "Mas tu é muito bicha!"

Eu acelerei o cortei o cara. Saí correndo na frente e, já em outra via, esperei ele chegar perto e emparelhei de novo. O filhodaputa veio todo meloso pra cima de mim:

"Po, eu pedi desculpas, loira!"

Perdi a paciência. Loira??? Essa foi baixa! Antes de eu reclamar, a Violeta respondeu com aquela classe que eu adoro:

"Tomar no seu cu! Ah, e eu não sou bicha, nós somos lésbicas!"

Aceleramos e fomos embora rindo, coração disparado e sensação de alma lavada. Lembrar de sempre xingar pessoas no trânsito para melhorar o dia!

terça-feira, janeiro 02, 2007

A homofobia inocente

E hoje de novo aquelas piadinhas homofóbicas na mesa do almoço. Explicando: estava eu toda feliz cumprindo meu papel familiar de irmã caçula e falando de palavras novas que eu tinha aprendido no dia anterior. E lá fui eu falar que "the Rut", em inglês, é a época do ano em que os machos ficam sexualmente ativos, especialmente renas e veados. E aí meu irmão solta, todo engraçadinho: "Claro! Viado só consegue ser macho uma vez por ano!"

Fiquei calada, sem acreditar naquilo. Sou só eu que não acho graça? O assunto mudou e a piada ficou pra trás. Será que ele percebe que a homofobia está nessas pequenas gracinhas? Acho que ele não vê o tanto que ele me atinge falando esse tipo de coisa. Fiquei indignada, mas deixei passar.

Contando isso para a Violeta, percebi como minha postura estava sendo conivente com aquilo tudo. Fui tão educada pela minha mãe para não ser agressiva e "respondona" que minha única reação era ficar calada. E aí pensei que se eu ficar quieta em todas as piadas, meu irmão nunca vai perceber que me elas me incomodam (ou nunca vai ligar). Se eu for passiva enquanto me agridem, essa homofobia "inocente" não vai diminuir. Depende de mim que as pessoas percebam que certas atitudes não são adequadas, e eu estou falhando nesse ponto.

Resultado do almoço de família: de agora em diante, vou voltar a ser agressiva e respondona. Ou, pelo menos, me pronunciar sobre os assuntos que me dizem respeito. Se eu não fizer, quem vai fazer por mim?