segunda-feira, junho 23, 2008

Clube da luluzinha

Talvez por eu sempre ter tido uma veia feminista, talvez por já ter sido meio bruxa eu tenha me incomodado tanto. Desde criança eu percebia que o universo feminino é desvalorizado - já perceberam que as mulheres alcançaram o direito de usar calças, mas é degradante para um homem usar saia? E, mesmo tendo crescido numa casa cheia de mulheres, eu percebia que certas coisas não eram ditas.

Dentre essas coisas não-ditas, também entendi cedo que eu era a única no meu mundo de mulheres que adorava menstruar. Mas não era incrível aquilo? Só acontecia com a gente! E era algo secreto, misterioso, sazonal, feminino... e todas odiavam! Nunca aceitei isso.

Passei minha adolescência me treinando para adorar menstruar. Fazia parte da minha ética feminista e, por um certo tempo, também da minha ideologia religiosa. Me esforcei para ser aberta sobre assunto (se eu falo abertamente de tudo, por que não disso?) e para ter uma atitude positiva em relação às minhas bocetitudes.

E é aí que entra a minha reação esse fim de semana. Eu trabalho num lugar de pensamento muito aberto, onde a criatividade e a crítica são incentivadas. Sábado, ao entrar no banheiro feminino, dei de cara com um absorvente e um ob cheios de sangue, pregados no espelho. Senti um mal estar tremendo. Aquele cheiro estranho no banheiro somado àquela visão me desnorteou. Demorei alguns segundos para entender que o sangue não era sangue, e que o cheiro estranho era de catchup: aquela obra de arte no espelho era um protesto por alguém ter entupido o vaso ao jogar absorvente dentro dele, e não no lixo.

Saí do banheiro e do trabalho com isso martelando na cabeça. Como o nosso sangue pode nos incomodar tanto? Como podemos nos achar tão sujas? Por que temos nojo de algo completamente natural? Será que é possível quebrar essa visão negativa de nós mesmas?

O choque que tive, mais com o meu próprio incômodo do que com o que estava à mostra no banheiro, me deixou bem abalada. Porém, ele foi útil para me mostrar em que lugar eu estou na escala de libertação feminista (se é que isso existe): sou super consciente da nossa situação, mas quando vamos para o nível inconsciente sou tão mulherzinha como qualquer Amélia dos anos 50.

E vocês, meninas? Como lidam com suas menstruações?