Hoje eu estava na universidade batendo papo no meio da aula com meu amigo gay. É até engraçado olhar para a gente: somos os dois pianistas, cantores líricos com extensões incomuns, e ficamos muito amigos antes de eu saber que era lésbica (ai Deus! já to me rotulando) e antes de ele saber que era gay. Entramos quase juntos na universidade, estudamos no mesmo colégio no Ensino Médio, ouvimos e gostamos das mesmas músicas e, o que é mais incrível, temos a mesma altura (!!!). Deve ser algum esquema de almas-gêmeas que não deu certo, sei lá.

Enfim, a gente batendo papo, ele falando do cara que tava afim, eu falando do meu abandono em Brasília, e ele de repente pergunta na frente de todo mundo: "ela foi pra onde?"

Deu pra ver? Ele falou "ELA", assim, pra todo mundo ouvir. E não era aula teórica não, era aula prática, com pessoas andando por uma sala pequena, ouvindo, fofocando, conversando, cantando...

Eu respondi na hora: "tá num cruzeiro com a família, a chata." E foi assim. Porque na hora foi simples, e só por isso. Não deu nó na garganta, nem frio na barriga, nada. Porque eu sei que todos no meu curso já sabem, apesar de não falarem abertamente. Porque eu sei que não deveria ter nada demais em ser uma menina e ter uma namorada. Mas, principalmente, porque eu sabia que era eu, e que não tinha razão alguma para eu me sentir mal por algo que eu sou.