domingo, outubro 07, 2007

Ameaças no meio da noite

Ontem estávamos eu e Violeta andando pela cidade atrás de algo para comer depois da meia noite. Depois de perambular um pouco, decidimos ir a uma loja de conveniências 24 horas que abriu perto de nosso apartamento (que, diga-se de passagem, estávamos relutantes em ir porque comida 24 horas perto de casa = freqüentadoras assíduas do local).

Acabamos indo lá, comemos, compramos porcaria pra comer em casa vendo filme e, ao sair, tivemos que passar por meio de um grupo de caras. Pedi licença e, logo após passar, ouvimos os comentários. Primeiro um "claro, pode passar!" rapidamente interrompido por um "opa, ou não... pera lá..." e um "me dá uma carona?"

O pior veio por fim, quando já estávamos no carro. "Nessas horas eu queria ser um skinhead". Liguei o carro rápido e acelerei enquanto eles entravam no carro de trás olhando para a gente.

Corri um pouco, o coração na boca, dei algumas voltinhhas pelas ruas perto de casa antes de ir pro apartamento. Quando tínhamos certeza de que ninguém nos seguia, viemos para o apê.

Fiquei com medo, me senti impotente, idiota. Por que não fizemos nada? Em outros tempos, teríamos retrucado - estávamos num posto de gasolina, tinha muita gente lá, era um local relativamente seguro e com várias testemunhas. Por que precisamos passar por isso? Tinha vontade de gritar "quem é você para invadir minha vida, tentar me prender nela, tirar minha liberdade? Quem é você que se sente no direito de reprimir o meu amor, ou tirar minha vida?"

Conversando com Violeta percebemos que estamos fracas, passivas. Talvez por termos passado por coisas tão ruins no relacionamento estamos sem a nossa ligação forte, inquebrável. Enfim. Foi ruim, me deu um puta dum medo e me fez sentir violentada. Cadê a minha segurança? Cadê a minha coragem? Onde foi parar minha militância?

Acho que a pior parte, depois do medo, foi me sentir covarde.

4 comentários:

Ana Arcanjo disse...

retrucar talvez fosse pior...
ainda que houvesse testemunhas, será que elas estariam dispostas a ajudar? será que se "arriscariam" por um casal sapatão??
Sei lá, sabe...
com certeza que nao estamos seguras. E com certeza que nao temos muito o que fazer...
eu, pelo menos, nao faço muito o estilo kamikaze, ou homem-bomba.
prefiro ficar na minha...
ainda que eu tenha que aguentar o sentimento de impotência e a minha covardia.
pelo menos estou inteira...
(ainda que às vezes eu tenha vontade de explodir o mundo, por causa disso)

Violeta disse...

Foi uma situação muito tensa, mas concordo, os últimos acontecidos abalaram nossa ligação e eu não vejo a hora de recuperá-la.

Não vou negar que tenho muito medo, mas sabe, se ninguém fizer nada todas nós viveremos com medo sempre! Não digo que seremos mulheres-bomba e tal, mas está mais do que na hora de chamarmos a atenção de toda a sociedade! A violência não pode continuar como está, que direito essas pessoas têm de se meterem na vida de outras? De acharem que podem bater e muitas vezes tirar a vida de outras? Eles são tão bons assim que merecem viver e a gente não? Quer saber, não mesmo!

Duas podem não fazer muita diferença, mas se todas nós saissemos pra lutar contra isso, com certeza o mundo prestaria atenção!

beijos Flores!

Anônimo disse...

O mais dificil, é saber que esse medo é resultado exclusivo, da sociedade, e ela esta mudando, porém muitos ainda não comprrendem, são, preconceituosos, e agressivos. temos que gritar sim, mas tambem ainda temos que nos proteger...

Fique bem vocês meninas, otema semana

Mariella disse...

Preconceito e discriminação são atitudes irracionais. E o estranho é que são atitudes próprias dos seres humanos, que se acham "os" evoluídos, mais inteligentes que os outros seres vivos. E alguns conseguem ser ainda mais irracionais que os outros ao partir pra violência...
Mas esquecem que todos somos iguais por sermos tão diferentes.

Não da pra entender o por quê dessa não aceitação das diferenças. Não dá pra entender mesmo.