sábado, outubro 01, 2005

* Sobre a mulher-macho - Parte 2 *


Olá, meninas! Estou de volta com a defesa à mulher-macho. Como tem muita coisa pra ser dita, vou fazer posts em doses homeopáticas para não cansar ninguém (nem a mim mesma). Vamos à primeira pergunta:

1. Qual o problema de ser uma sapa-bofinho? Qual o problema de se vestir como homem e se comportar como homem? Qual o problema de não ser "delicada" como uma menina deve ser? O que uma menina deve ser?

Encontramos muito preconceito contra as lésbicas com aquela famosa frase: "não tenho nada contra ela ser lésbica, mas ela precisa ser masculina?"

Essas frases possuem um conteúdo muito forte, que às vezes nem percebemos. Ao criticar a dita "masculinidade" de algumas lésbicas, vemos uma tentativa de restringir certos comportamentos que não estão dentro dos que são considerados "naturais" em nossa sociedade. Recapitulando: meninas são educadas para serem de um jeito e meninos de outro. Meninas crescem ouvindo que são "naturalmente" mais sensíveis, vaidosas, recatadas, enfim, mais femininas. Meninos devem ser mais competitivos, racionais (homem não chora!), garanhões - atributos considerados masculinos. Nada errado nisso - é apenas mais uma visão entre tantas no mundo do que é ser macho e fêmea. Porém, uma visão que nos é vendida como verdade absoulta, ao ponto de sermos bombardeadas a todo momento com explicações biológicas que expliquem essas diferenças entre homens e mulheres como "naturais".

No momento em que invertemos essa ordem "natural", somos vistas com maus olhos. E entre as lésbicas, é comum ver essa ordem "natural" ser invertida na aparência. Somos vistas como masculinizadas na maneira de vestir e como pouco vaidosas. Como pode uma menina ser descuidada da aparência? Por que se vestir de uma maneira masculinizada?

Para responder a essas perguntas sobre vaidade e feminilidade/masculinidade, precisamos entender o que querem dizer essas palavras. O que é a vaidade, ou o "cuidado com a aparência"? Falamos em vaidade como algo positivo, até ligado à higiene. Ninguém nos lembra que esse "cuidado" acaba sendo uma corrida para copiar os modelos de beleza, e não uma busca pela beleza real (hehe, propaganda da Dove isso). Se uma menina não gosta de usar maquiagem, ela "não se cuida". Se ela não se sente confortável usando decotes, ela "não é feminina". Se ela prefere conviver com seus quilinhos a mais, sem ligar para a obrigação de viver de dieta para ser como as anoréxicas top-models, ela "não é vaidosa". Pobres de nós, presas a um modelo inalcançável de beleza!

Mais do que pouco vaidosas, as lésbicas são vistas como masculinizadas. O que é ser masculina? Se pararmos para pensar um pouco (pouco mesmo), vamos ver que a definição de masculinidade é mutável. Há pouco tempo, usar calças era sinônimo de lesbianismo. Como exemplo, imaginem que minha mãe precisou lutar em casa para usar calças em plena década de 70. Isso era impensável, afinal, calça era apenas para homens! Hoje todas usamos calças, e isso não é mais visto como sinal de masculinidade. Porém, usar uma camisa de botão ainda é ser "masculina". O que não quer dizer que, daqui a alguns anos, ainda seja assim. É claro que as coisas só mudam quando tem gente lutando por mudança, e eu volto a isso mais tarde. A minha pergunta, agora, é essa: qual é o problema de ser masculina?

Eu gostaria muito de responder que eu não vejo problema nenhum em uma garota masculina. Mas a quem eu quero enganar? Eu ia preferir ficar com uma garota "delicada" e "feminina" do que ficar com uma "masculina". E isso porque estamos tão acostumadas a achar ruim e estranha essa "confusão" entre os sexos que preferimos ficar dentro dos padrões aceitáveis. E aí que vem a minha defesa à mulher-macho: elas são as sapas mais corajosas. Vão contra tudo e todos, enfrentando não só o preconceito de amarem outras mulheres, mas o preconceito por serem "quase-homens", sendo discriminadas até pelas bolachas mais "finas". Elas não se sentem obrigadas a serem delicadas, sensíveis e gostosas. Costumam ser competitivas, usam roupas de lojas masculinas, falam grave e muitas vezes têm fama de pegadoras. Tem como inverter mais? Acho que não. Elas são a própria essência do contrário. Elas conseguiram sair da pressão da mulher-perfeita. Elas descobriram que não precisam ser como os outros querem que elas sejam. Se libertaram da obrigação de amar um homem e dos sonhos impostos de casar e ter filhos. Encontraram uma alternativa de vida fora do convencional. Lutaram pela própria felicidade contra o mundo e, mais difícil ainda, contra elas mesmas. E, depois de transformar tantos conceitos dentro delas, usar uma camisa de botão é algo muito pequeno, porém muito simbólico. A masculinidade da mulher-macho é mais que uma maneira de dar pinta. É a representação visual de conceitos e comportamentos. É assumir para todos, e para si mesma, um estilo de vida.

Se não fossem essas mulheres corajosas, nós não teríamos a liberdade (pequena, sim) que temos hoje. Nós nem existiríamos, pois seríamos invisíveis. Aqui no Jardim podemos estar no anonimato, mas é um anonimato ativo - pelo menos é como eu vejo. E se podemos falar sobre nossos amores tão "fora do comum", é porque muitas antes de nós já deram a cara a tapa para gritar ao mundo que sim, nós estamos aqui. E não queremos mais nos esconder.

E viva a Mulher-Macho!

[Peço a compreensão de Violetas entendedoras do assunto e Gérberas estudantes de ciências sociais pelo discurso pseudo-intelectual. Juro que procurei ser coerente e não falar muita besteira no estilo "mamãe-quero-ser-ativista".]

2 comentários:

Anônimo disse...

Nem tenho muito o que dizer, já que acho o texto super coerente e bem estruturado (como sempre). Nada de papo pseudo, linda! A análise foi em cheio na minha singela opinião...

Violeta disse...

Vc sempre arrasa, sabe disso!!! na minha opiniao, conseguiu mto bem contemplar a "mulher-macho" e mamae-quero-ser-ativista foi otimo!!! hahahae acredite, mamae ficaria mto orgulhosa!!

=****